Blogia

ilustre desconhecido

Vamos lá experimentar se isto ainda funciona

Ao tempo em que aqui escrevo apercebo-me do obsoletos que são hoje estes Blogs e penso no que serão quando a minha filha já usar um computador... O tempo de hoje é sem duvida um tempo mais rápido...

Olá Marie

Esta casa estava abandonada há alguns anos

Mas voltei a abri-la só para ti...

Bjs

Ricardo

Avergonzado

Aljustrel









e
no
fim
mina
minha
tão bem
saberás
olhar por
Aljustrel
seus filhos
suas esposas
suas familias.
Na dificuldade
seremos destros
lutaremos sem fim
mostraremos honra
dignidade valorosa
jamais esqueceremos
somos parte desse chão
as galerias exploradas
corredores percorridos
vidas inteiras dedicadas
alquimia de sol por pirites
ALJUSTREL PRECISA DAS MINAS
não pode morrer a esperança
espero o dia da tua revolta
grita das tuas entranhas
anuncia uma nova aurora
a divina ressurreição
sim, voltarás a jorrar
serás novamente pão
e o mineiro voltará.
Engenhoso e hábil
bule teu coração
imenso e abondo
com árduo suor
emancipador.
Serás cobre
serás ouro
serás paz
alegria
chumbo
prata
amor
luz
tu
e...








José Leal

Fernando Pessoa







Tengo pena y no respondo.
Mas no me siento culpado
porque en mí no correspondo
al otro que en mí has soñado.




Cada uno es mucha gente.
Para mí soy quien me pienso,
para otros.. cada qual siente
lo que cree, y es yerro inmenso.




Ah, dejadme sosegar.
No otro yo me sueñen otros.
Si no me quiero encontrar,
¿querré que me halléis vosotros?






Nunca é demais dar-mos Pessoa a conhecer aos españois













Crónica de um casamento

Meu amigo jarbas, espero que tenhas suportado bem a ressaca! ¿ou será que a voltaste a apanhar para conseguir dizer ao Sr. Engº que me deste os bilhetes da viagem e que lhe batemos com o Ford de 1952?


Como vês no postal, estou no paraiso, nada mal para um homem casado. No outro dia, por entre dois copos de whisky, pareceu-me ver passar a nossa garrafa com a gravata atada ao gargálo, mas pode ter sido só ilusão de óptica, é que aqui faz muito calor.
Há! agradece as férias à Ana, diz-lhe que só penso nela e para ela tentar acalmar o velho. (escusado será dizer: -não lhe mostres as fotografias).


O meu casamento acabou, quando uma convidada que estava sentada na mesa da minha madrinha, e eu juro que nunca vi mais gorda, sacou de vários sacos e caixinhas e distribuiu criteriosamente pelos meus convidados. A senhora que eu não convidei, liderou a investida sobre a mesa, perante a incredulidade dos convidados da Ana, que dispersaram em pequenos grupos sussurrando pelos cantos da sala, agarrados aos pertences, como que temendo a investida do grupo sobre eles.
A banda parou de tocar e tornou mais proeminente o alvoroço dos sacos de plástico e das mãos que eu já não distinguia a que corpos pertenciam e que sacos atavam. Então, após encher novamente o copo, tive um acesso de lucidez, subi ao palanque, onde estava a banda que o meu sogro contratou e ordenei:
- Toquem um merengue, seus espantalhos!
E como os empregados de mesa estavam especados sem trabalhar, resolvi pô-los a mexer:
- Tragam-me outra garrafa de whisky seus artolas!
No entanto penso que escolhi mal a mùsica, pois o meu sogro saiu com a minha esposa pendurada por um braço, deitando labaredas, balbuciando vergonhas e dizendo que mais tarde acertariamos contas. Arrancou a toda a velocidade no Mercedes deixando para trás toda a gente.
Os meus convidados partiram logo a seguir, com os Datsun's e os Fiat's apinhados de primos e tios embriagados, com as camisas desabotoadas, a cheirar a vinho e a suor.
Eu fiquei esquecido no restaurante, com a camisa desabotoada e a cheirar a whisky, pelo que não me restou outra alternativa que apanhar duas garrafas, entrar no carro de noivos e pedir ao Jarbas que me levasse pela cidade a arejar.
- Pois eu ainda mando alguma coisa, sou o genro do Sr. Engº!
- Manda pois!
Estava desalentado. Acabava de perder o meu grande amor. O Jarbas como estava sob as minhas ordens, acompanhou-me na bebedeira, suplicando-me somente que não vomitasse o Ford de 1952 do Sr. Engº. Enquanto bebiamos, percorremos os locais da minha infância; em Belém, atei a gravata ao gargálo da garrafa e atirei-a ao rio. No momento em que apostava com o Jarbas que aquela garrafa atravessaria o oceano, ele recordou-me que não sabia o que fazer com os bilhetes da viagem á Costa Rica.
Resolvi logo ali, por tudo o que o pai dela me fizera passar; ele sempre foi contra o casamento e ao minimo pretexto, acabou com tudo.
Tomei a melhor decisão da minha vida:
- Aeroporto Jarbas!


José Leal

O lugar

Quando me perguntardes
de onde eu sou,
¿que poderei responder?
sou daqui,
sou dali,
sou de onde eu quiser.
Deste mundo,
daqueloutro,
não sei o que vos dizer.
Serei de um lugar qualquer.
¿Que importa isso para mim,
se eu nunca estarei aqui?
¿O meu lugar?
Não vos saberei dizer.
Mas sabei que por lá ando
quando me virdes escrever.


José Leal

A corda

Esvaindo-se em letras, escorre sentimentos,
como quem miga e retém aromas,
que solta no éter com o sofrimento
contando da vida onde houve lamento.
Vida tão comprida com tantas pessoas.
Penosa, dorida, de tantos desgostos.


De pulsos cortados donde saem rimas,
palavras, metáforas, frases inacabadas,
testemunhos frios de existências duras,
textos prolixos que não dizem nada,
recordações aduncas de tão desgastadas,
que ferem a mente já tão baralhada,
caminhos proibidos outrora trilhados,
hoje imperceptíveis na beira da estrada.


Vinga no papel a pouca coragem,
mal gasta em lutas de um qualquer senhor:
A qual não poupou e agora lhe falta,
no passo último de divino amor
de pagar à terra com o mesmo pão,
que o fez camponês poeta e artesão.
O fez politico e o botou na prisão.


José Leal

A janela

A janela

No lugar onde me depositaram para morrer, de permeio com o sofrimento, também há momentos de descontracção; em que olho este quadro vivo, que me proporciona a janela à direita do meu tumor, (não deveis estranhar esta referência: pois, desde há quatro anos, tudo na minha vida se organiza em torno desse animal, que me consome lentamente). A descontracção, dizia eu, surge nos intervalos da dor, quando consigo alhear-me de tudo o que me rodeia e seguir sem interrupções o percurso dos pombos correio na paisagem, estudar a sua organização social, os seus vícios, as suas missões, as suas ausências prolongadas e mesmo o desaparecimento definitivo de alguns: que choro, por serem eles a minha família, são eles que nada me escondem. Seres solidários e fiéis companheiros, por isso, quando me virem chorar, saibam que é pelos pombos que choro, não pela doença, não por falta de atenção, não por pena de deixar este mundo, mas sim pelos pombos correio, só pelos pombos. Não tenho raiva dentro de mim, como ouço em surdina, sempre que me irrito com o vosso cinismo. Só lhes peço que me entreguem definitivamente, sem despedidas, prossigam devorando-se uns aos outros no vosso mundo de egoísmos. Guerreiem pelo nada e pelo muito. Quanto ao meu lugar junto à janela... A minha hora está próxima, um pombo-correio aqui deste pombal, vos anunciará em breve a minha partida, e a quem aqui padecer, deixo-lhe os pombos, uma vez que nada mexe na paisagem, só o voo tracejante desses anunciadores do destino.


José Leal

Te hecho de menos

La lluvia caendo en mi
me hace sentir más fuerte
mientras sigo pensando en ti
soy un espectro de muerte


por una calle cualquier
te veo cerca de mi
hecho de menos el atardecer
en lo qual te conocí


te extraño mi amor
creo que me vuelvo loco
sin tú abrazo y tú calor
voy moriendo poco a poco


no sé que va a ser de mi
y si las fuerzas son de verdad
voy caminando por aqui
hasta el atardecer nos juntar


José Leal

O Licantropo

Um ar gélido atravessa-me a espinha

Tolhe-me os movimentos

A noite chega trazendo a cacimba e o silêncio que me petrifica

Um fluido pegajoso cola-se-me à pele

Estou ensanguentado

A ferida que julgava sarada voltou a sangrar

E hei-me de novo assustado na urgência de um recanto

Um local recôndito

Uma caverna qualquer

Não necessitarei já de curativos

Nem tão pouco de calor animal...

Anseio apenas adormecer esta dor e extinguir-me nela

Onde não estorve a passagem

Onde as moscas não dêem comigo e os pássaros me não biquem os olhos

Um buraco onde lamber as feridas

Longe dos olhares lancinantes de quem irrompe no amanhecer

Logo nascerá o dia e as luzes que me vigiam

Diluir-se-ão na manhã efervescente

Os humanos regressarão à cidade

Dilacerados, todos...

Feridos de morte, alguns

Disfarçam as chagas dos espelhos acusadores

Tal como eu

E tal como eu não podendo se esconder

Um momento que seja

Ao longo de todo um doloroso dia

Desesperados, aguardarão o cair da noite

Para lamber as feridas

Em silêncio

A sós

Muitos refugiar-se-ão aqui na serra

E aqui derramarão prantos selváticos sob as luzes da cidade que os destrói

E à qual terão que regressar com a alma tatuada de uivos silenciados

Sufocados

Até a noite os libertar




José Leal

E tu . que fizeste?

“Num tronco de uma árvore, uma menina
Gravou o seu nome cheia de prazer
E a árvore comovida no seu intimo
À menina uma flor deixou cair


Eu sou a árvore comovida e triste
Tu és a menina que meu tronco feriu
Eu guardo sempre o teu querido nome
E tu, que fizeste da minha pobre flor?”


Eusébio Delfín 1920 (Havana)


(tradução)

Ricardo Reis

"A la patria, mi amor, prefiero rosas,
y antes magnolias amo
que gloria y que virtud.


Mientras la vida no me canse, dejo
pasar por mí la vida,
si sigo siendo el mismo.


¿Qué importa aquel a quien ya nada importa
que uno pierda, que otro venza,
si ha de amanecer siempre,


si, con la primavera, año tras año,
las hojas aparecen
y en el otoño cesan?


Y el resto, lo demás que los humanos
añaden a la vida,
?algo añade a mi alma?


nada, salvo la sed de indiferencia
y la confianza suave
en la hora fugitiva."