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ilustre desconhecido

Crónica de um casamento

Meu amigo jarbas, espero que tenhas suportado bem a ressaca! ¿ou será que a voltaste a apanhar para conseguir dizer ao Sr. Engº que me deste os bilhetes da viagem e que lhe batemos com o Ford de 1952?


Como vês no postal, estou no paraiso, nada mal para um homem casado. No outro dia, por entre dois copos de whisky, pareceu-me ver passar a nossa garrafa com a gravata atada ao gargálo, mas pode ter sido só ilusão de óptica, é que aqui faz muito calor.
Há! agradece as férias à Ana, diz-lhe que só penso nela e para ela tentar acalmar o velho. (escusado será dizer: -não lhe mostres as fotografias).


O meu casamento acabou, quando uma convidada que estava sentada na mesa da minha madrinha, e eu juro que nunca vi mais gorda, sacou de vários sacos e caixinhas e distribuiu criteriosamente pelos meus convidados. A senhora que eu não convidei, liderou a investida sobre a mesa, perante a incredulidade dos convidados da Ana, que dispersaram em pequenos grupos sussurrando pelos cantos da sala, agarrados aos pertences, como que temendo a investida do grupo sobre eles.
A banda parou de tocar e tornou mais proeminente o alvoroço dos sacos de plástico e das mãos que eu já não distinguia a que corpos pertenciam e que sacos atavam. Então, após encher novamente o copo, tive um acesso de lucidez, subi ao palanque, onde estava a banda que o meu sogro contratou e ordenei:
- Toquem um merengue, seus espantalhos!
E como os empregados de mesa estavam especados sem trabalhar, resolvi pô-los a mexer:
- Tragam-me outra garrafa de whisky seus artolas!
No entanto penso que escolhi mal a mùsica, pois o meu sogro saiu com a minha esposa pendurada por um braço, deitando labaredas, balbuciando vergonhas e dizendo que mais tarde acertariamos contas. Arrancou a toda a velocidade no Mercedes deixando para trás toda a gente.
Os meus convidados partiram logo a seguir, com os Datsun's e os Fiat's apinhados de primos e tios embriagados, com as camisas desabotoadas, a cheirar a vinho e a suor.
Eu fiquei esquecido no restaurante, com a camisa desabotoada e a cheirar a whisky, pelo que não me restou outra alternativa que apanhar duas garrafas, entrar no carro de noivos e pedir ao Jarbas que me levasse pela cidade a arejar.
- Pois eu ainda mando alguma coisa, sou o genro do Sr. Engº!
- Manda pois!
Estava desalentado. Acabava de perder o meu grande amor. O Jarbas como estava sob as minhas ordens, acompanhou-me na bebedeira, suplicando-me somente que não vomitasse o Ford de 1952 do Sr. Engº. Enquanto bebiamos, percorremos os locais da minha infância; em Belém, atei a gravata ao gargálo da garrafa e atirei-a ao rio. No momento em que apostava com o Jarbas que aquela garrafa atravessaria o oceano, ele recordou-me que não sabia o que fazer com os bilhetes da viagem á Costa Rica.
Resolvi logo ali, por tudo o que o pai dela me fizera passar; ele sempre foi contra o casamento e ao minimo pretexto, acabou com tudo.
Tomei a melhor decisão da minha vida:
- Aeroporto Jarbas!


José Leal

2 comentarios

Nia -

Ehehehehhehe!A julgar pela dislexia ali nalgumas palavras do meu comentário...quem tá com os copos sou eu!

Nia -

Olha, voltaste! E voltaste de amnsainho sem me dizeres nada!!!OK.Tás perdoado porque a bebedeira era grande e nunca mais te elmbraste de mim....mas agora que já voltaste...(das Bahamas?) a ressaca de férias e mar azul e palmeiras..e sobretudo a ressaca de corpos lindos de miúdas bronzeadas...deram-te a volta à cabeça! Mas, olha..quando sossegares...vem visitar-me...sim?